O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Santa Catarina, que, só em 2007, recebeu mais de 476 mil chamadas, está passando por uma auditoria operacional empreendida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). O objetivo é avaliar a relação custo/benefício do serviço.
O processo agora entra na fase final de planejamento, que, entre outras atividades, envolveu um painel com a comunidade.
- Foi um avanço, pois assim pudemos planejar a auditoria com base naquilo que realmente tem relevância para a sociedade - destaca João Luiz Gattringer, diretor de Atividades Especiais do TCE.
Com a colaboração de entidades catarinenses, foram definidos os objetivos da auditoria operacional no Samu.
- De maneira geral, o sentido da auditoria é avaliar a eficiência, eficácia e economicidade, ou seja, a relação custo/benefício do serviço - diz o auditor fiscal de controle externo do tribunal, Célio Maciel Machado.
Auditores avaliam que já ocorrem avanços
A próxima fase prevê ida a campo para responder itens levantados na fase de planejamento. O processo completo da auditoria pode levar até dois anos para conclusão.
- Trabalhamos no sentido de melhorar o serviço. Um exemplo: o Samu em Florianópolis está no Centro, próximo da Rua Gama DEça. Se tem um engarrafamento na Beira-Mar Norte, como atender um paciente com AVC em Canasvieiras? A auditoria também vai constatar se não é necessário descentralizar o serviço e oferecer mais unidades avançadas (UTI móvel) - cita Machado.
Mesmo sem chegar à fase de divulgação do relatório em que sugere e indica mudanças e ajustes no órgão avaliado, auditores acreditam que o processo já possa estar gerando avanços.
- Já notamos que, a partir do momento em que o TCE definiu o Samu como objeto de auditoria operacional, há uma vontade crescente de integrar os serviços (Samu, bombeiros e Polícia Militar), assim como da necessidade de se realizar reuniões internas para que certos pontos sejam corrigidos e não precisem integrar o relatório - observa João Gattringer.
Saiba mais
O Samu
- O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é um serviço de saúde que é desenvolvido pela Secretaria de Estado da Saúde, em parceria com o ministério e com as secretarias municipais de Saúde
- A secretaria é responsável pela regulação dos atendimentos de urgência (ou seja, define se a solicitação feita através do número 192 é realmente urgente e qual o tipo de atendimento deve ser dispensado para solucionar o caso, se com o deslocamento de ambulância com UTI móvel ou não, por exemplo) e pelo gerenciamento das transferências inter-hospitalares de pacientes graves
- O Ministério da Saúde iniciou a implantação do Samu em 2003. Em Santa Catarina, o serviço começou a ser executado no final de 2005, com a inauguração das Centrais de Regulação (locais onde são atendidos os chamados) de Chapecó, Florianópolis e Joinville
- Em 2006, foram ativadas outras quatro centrais: em Criciúma, Blumenau, Joaçaba e Lages. E, mais recentemente, em 26 de janeiro de 2008, foi inaugurada a oitava unidade, em Balneário Camboriú
- As oito Centrais de Regulação atendem a oito macrorregiões do Estado, que abrangem todos os 293 municípios catarinenses
A auditoria operacional
- A auditoria consiste na avaliação sistemática dos programas, projetos, atividades e sistemas governamentais, assim como dos órgãos e entidades que estão sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas do Estado
- O objetivo do trabalho é examinar a ação governamental quanto aos aspectos da economicidade, eficiência, eficácia e efetividade dos programas e projetos governamentais
- A análise implica na avaliação do cumprimento dos programas de governo e do desempenho das unidades e entidades sujeitas ao controle do Tribunal de Contas
Os objetivos da auditoria
- Verificar adequação física, operacional e humana
- Verificar se o serviço atende efetivamente todo o Estado ou se existem áreas não atendidas
- Avaliar se existe uma integração entre as centrais da PM (190), do Samu (192) e dos Bombeiros (193)
- Verificar se estão sendo gerados indicadores sobre a estrutura hospitalar que podem ajudar a mapear necessidades
- Também verificar se o Samu tem indicadores de tempo de resposta, tempo de chegada, tempo de remoção, além do levantamento de causas de atendimento e mortalidade evitável
- Checar se os trotes são contabilizados de acordo com a determinação do Ministério da Saúde e quais as ações que estão sendo adotadas para evitá-los
30-06-2008 - Levantamento deve apontar carência de UTIs móveis
O relatório do TCE deve apontar um número insuficiente de unidades de atendimento avançado, como são chamadas as UTIs móveis do Samu. Na central de regulação da região da Grande Florianópolis, responsável por 20 municípios, são apenas quatro veículos.
- Temos um problema de distribuição de unidades em razão do número limitado. A maioria dos atendimentos são de suporte básico, não de avançado. Mas deveríamos ter, pelo menos, mais duas ou três unidades de suporte avançado para poder espalhar melhor na região - observa o coordenador regional do Samu Florianópolis, Alfredo Schmidt.
Outro ponto que será analisado na auditoria do TCE será o quanto os serviços de emergência do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Samu estão trabalhando integrados.
- Existe um projeto para implementar um serviço que integre os três órgãos, mas nós ainda estamos dependendendo da parte tecnológica. Quando implantado, teremos a mesma tela inicial e poderemos encaminhar as ligações para os outros serviços, se o pedido não for da alçada do Samu. Por enquanto, a integração é feita com os bombeiros por meio do rádio - explica Schmidt.
30-06-2008 - ingamentos eram constantes no começo
Conforme ele, boa parte das reclamações recebidas na ouvidoria do Samu diz respeito a ocorrências que o serviço não deveria ter atendido, mas o solicitante acreditava que sim.
- É preciso que a população entenda que, quando deslocamos uma ambulância para um chamado considerado desnecessário, podemos deixar de atender alguém que corre risco de morte - diz o coordenador regional.
Conforme as estatísticas relativas a 2007, dentre as mais de 476 mil chamadas que o Samu de Santa Catarina recebeu, foram realizados 104 mil atendimentos.
- Realmente falamos mais "não" do que "sim". Toda a ligação passa por um médico, que vai orientar o solicitante sobre o procedimento mais adequado. Na nossa região, mais ou menos 60% das ligações não geram o envio de uma unidade. Hoje as pessoas já entendem melhor, mas no começo a gente era xingado com freqüência - lembra Schmidt.
Quando ligar
PARA OS BOMBEIROS (193)
Casos de incêndios e explosões, afogamentos, acidentes de trânsito com vítimas, acidentes com produtos perigosos (corrosivos, inflamáveis, tóxicos), pessoas trancadas em espaços confinados, pessoas correndo risco em queda de altura, vazamento de gás. Demais situações em que pessoas ou animais corram risco de morte
PARA A POLÍCIA MILITAR (190)
Em casos de crimes e contravenções. Também em caso de brigas e agressões. A Polícia Militar atua na área criminal, mas também funciona como apoio ao socorro prestado pelo Corpo de Bombeiros e Samu. Realiza transporte simples de vítimas e atendimento no local, já que os policiais possuem noções de socorro
PARA O SAMU (192)
Em caso de urgências e emergências pré-hospitalares. Aquelas situações em que teoricamente não há tempo suficiente para chegar ao hospital e o paciente precisa de um atendimento intermediário antes. Exemplo: ataques do coração, derrame cerebral convulsões. Também atende aquelas situações em que a pessoa precisa ser transportada para o hospital de uma maneira segura, como em um acidente de carro. O Samu não faz transporte simples nem atendimento domiciliar
30-6-2008 - Calma e agilidade em cada nova ocorrência
O telefone toca na Central do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Florianópolis, no Centro da Capital. É quase meio-dia. A voz do outro lado avisa que um acidente aconteceu com um vizinho no Bairro do Campeche, no Sul da Ilha de Santa Catarina, e a vítima está inconsciente.
Bastam essas informações para que, menos de um minuto depois de recebida a ligação, a equipe composta pelo médico Marcos Braun Burger, a enfermeira Elizabeth Backes e o técnico de enfermagem Edival Goedert parta em direção ao Sul da Ilha em uma das quatro unidades avançadas disponíveis na central.
No percurso, seguem recebendo mais informações sobre a localização da ocorrência e o estado da vítima. Com a informação de que foi uma queda de um telhado, Elizabeth já retira o material que será necessário para o atendimento de dentro das quatro mochilas com equipamentos que ficam dentro da UTI móvel, onde tubos de oxigênio e maca dividem espaço com seringas, medicamentos e luvas.
30-06-2008 - Central orienta equipe sobre qual hospital levar o paciente
A ambulância com as sirenes ligadas segue driblando o trânsito difícil da SC-405. Ainda que enfrentando filas, a unidade chega ao local em menos de 15 minutos. A vítima está consciente, mas não lembra do que aconteceu minutos antes.
Os vizinhos explicam que ele caiu quando trabalhava em cima do telhado de uma casa. Depois de colocar o colete no pescoço da vítima e da devida imobilização para evitar uma lesão maior na coluna, o paciente é transportado para a ambulância.
De lá, o médico Marcos Burger explica para a central a situação do paciente para que seja definida qual unidade hospitalar deve receber a vítima. Em minutos, a resposta: Hospital Universitário. E é lá que o paciente, já medicado e imobilizado, é deixado. O atendimento é ágil e a integração da equipe é notável.
- É preciso estar sempre calmo. Faz parte do perfil de quem trabalha com atendimento pré-hospitalar - conta Edivald Goedert, que, além de socorrer as vítimas, dirige a ambulância.
Apenas no ano passado, o Samu de Florianópolis, que atende 20 municípios, de Alfredo Wagner a Garopaba, realizou mais de 24 mil atendimentos.
Como funciona a triagem
- Toda vez que alguém liga para o número 192 é realizado um interrogatório especializado para que, a partir deste relato, um médico chamado de médico regulador defina se foi configurada a urgência, se há necessidade de deslocamento de uma unidade móvel e para onde deve ser encaminhado o paciente
- Mais do que uma ambulância, o Samu é um mecanismo de triagem. Cabe a suas equipes não apenas classificar as urgências, mas também determinar o melhor destino para o paciente em questão, além da liberação de leitos para que seja acolhido no hospital
- Em caso de trauma, por exemplo, muitas vezes o médico aciona uma Unidade de Suporte Básico de Vida, ou seja Corpo de Bombeiros ou veículos da polícia. Nos casos mais graves, que exigem ações diretas ou de terapêutica médica, uma UTI móvel é enviada ao local, para que um médico responda pelo atendimento
- O envio de uma ambulância é justificado em casos de acidente de trânsito, ataques do coração, convulsões, desmaios prolongados, envenenamentos e intoxicações. A central não está autorizada a enviar carros para retirada de gesso, doação de sangue e realização de exames
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde
Fonte: Diário Catarinense - 30-06-2008