A sindicância aberta pelo Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (Cremesc) para investigar o caso do médico Fernando Slovinski é a primeira, desde 1970, instaurada devido à cobrança de um serviço gratuito por parte do profissional, segundo o presidente do Cremesc, Anastácio Kotzias Neto. Slovinski foi flagrado pela RBS TV cobrando R$ 3,5 mil para realizar um exame de tomografia e uma biópsia no Hospital Celso Ramos, em Florianópolis, sem que a paciente precisasse aguardar na fila do Sistema Único de Saúde (SUS).
Kotzias diz que já houve queixas semelhantes no interior do Estado. No entanto, nesses casos, a cobrança foi realizada por hospitais filantrópicos e não pelos profissionais. O Cremesc abriu, na segunda-feira, uma sindicância para apurar o caso de Slovinski e, caso a irregularidade seja comprovada, um processo ético-profissional será instaurado. Para esse tipo de processo, a punição pode ser desde uma advertência até a cassação do registro profissional.
Slovinski irá responder também a um processo administrativo-disciplinar na Secretaria de Estado da Saúde. Ele foi afastado da chefia do setor de radiologia do Celso Ramos. O Ministério Público (MP-SC) também determinou a instalação de inquérito policial por concussão (exigência de vantagem indevida em razão da função que desempenha). Os advogados de Slovinski ingressaram na 5ª Vara Cível de Florianópolis com medida cautelar pedindo que as fitas gravadas no consultório do médico fossem apreendidas e que fosse proibida a divulgação de informações sobre o caso. O juiz Saul Steil requisitou as fitas, mas não proibiu a veiculação de informações.
Slovinski foi procurado ontem, mas ninguém atendeu ao telefone de sua clínica particular.
FLORIANÓPOLIS A CONVERSA
Trechos da conversa, gravada pela RBS TV, entre o médico Francisco Slovinski e familiar da paciente durante a segunda consulta, quando a agricultora foi buscar o resultado dos exames:
Familiar - "Eu te dei R$ 3,1 mil, né?"
Slovinski - "Não, R$ 3 mil."
Familiar - "R$ 3 mil?"
Slovinski - "R$ 3 mil. Me desseR$ 3 mil. Não visse quanto tempo nós contamos aqui? Senta aí. Eu vou lá pegar os exames dela."
Slovinski se retira da sala. Ao voltar, com os exames na mão, diz:
Slovinski - "Sabe o que é que tem aí dentro? Estafilococos. Uma bactéria feroz. Bota feroz nisso."
O médico recomenda, então, à paciente a voltar para o HU:
Familiar - "Pegar uma vaga lá é o diabo."
Slovinski - "Não, não. Daí tu vais lá, que ele te atende rápido. Ele te atende. Diz: "Ó, o doutor Fernando mandou vir falar com o senhor aqui", que ele vai se lembrar. Aí ele te atende. Pode chegar lá, não precisa marcar nada."
Familiar - "R$ 300 eu tenho aqui hoje, só."
Slovinski - "Tais me levando no bico, né? Tais me levando no bico desde ontem, desde aquela semana passada. A senhora tem quanto aí?"
Paciente - "Eu tenho R$ 100 aqui."
Slovinski - "E tu tens quanto?"
Familiar - "R$ 300."
Slovinski - "Aí fica R$ 400. Pronto!"
Slovinski (após contar o dinheiro) - "Aqui tem R$ 370."
Familiar - "R$ 370? Mas aí como eu vou para casa? Tem que pagar o Sinei para trazer nós para cá."
Paciente - "Ele vai entender também. Depois eu converso com ele."
Slovinski - "Quanto é que tem aí? R$ 20?"
Slovinski - "Pronto. Fica por isso mesmo. Acabou, fechou."
Familiar - "Daí fechou?R$ 3,4 mil, então?"
Slovinski - "Pronto, fechou. Isso que eu fiz para vocês não pode falar nada, tá? Se a senhora fosse para outro lugar, a senhora iria ver só quanto que a senhora iria gastar."
Fonte: AN - 09-07-2008