04-08-2008 - A saúde na UTI

Os brasileiros acostumaram-se com a violência extremada, com os milhares de acidentes e mortes no trânsito, com a precariedade da infra-estrutura em geral do país, com o endemismo da corrupção e com as infinitas escusas proferidas por agentes dos serviços públicos para explicar o grau de penúria e ineficiência das instituições nas quais trabalham. Acostumaram-se por comprovar, por experiência própria e ao longo dos anos, que as soluções para diversos males, embora diagnosticadas há muito, ainda assim são sempre adiadas para as calendas gregas, restando ao cidadão comum a tarefa de continuar a irrigar a máquina pública pela via dos impostos leoninos. A contrapartida que deveria o contribuinte receber é pífia. Um imposto escandinavo para um serviço subsaariano. No entanto, se o indivíduo pode ainda se conformar com a precariedade de uma rodovia ou anestesiar-se em meio à profusão de notícias sobre desvios de recursos públicos, dificilmente se manterá indiferente ao sofrimento de um ente querido quando este se vê na contingência de esperar horas e horas por atendimento em algum de nossos hospitais. Infelizmente, a saúde pública no país continua mal, e o prognóstico não é dos mais favoráveis.
Os hospitais das maiores cidades do Estado vivem uma rotina onde a superlotação dá o tom. Em razão da escassez de serviços de atendimento 24 horas em postos de saúde municipais e da impositiva necessidade de pacientes do interior se deslocarem para os grandes centros em busca de atendimento, os hospitais dessas cidades maiores não conseguem atender à demanda. Resulta disso que não raro o paciente suporte os maiores suplícios nos corredores das unidades hospitalares, quase que entregue à própria sorte. O país, que tanto anseia por se inserir entre os mais desenvolvidos do mundo, não pode ignorar uma obviedade atroz: nenhuma nação pode se considerar desenvolvida se seu povo não recebe cuidados médicos dignos do nome, por maior que seja seu Produto Interno Bruto.
Descentralizar o atendimento, remunerar satisfatoriamente os profissionais do setor, aperfeiçoar os mecanismos de gerenciamento para evitar a corrupção, reforçar as unidades de triagem e de atendimento nas pequenas localidades e investir maciçamente na prevenção são ações indispensáveis para a melhoria da saúde pública. Pois não serão apenas discursos róseos que irão eliminar as dores e o sofrimento da população necessitada.

Fonte: Editorial/Diário Catarinense - 04-08-2008


  •