Os maiores especialistas em Medicina Intensiva reuniram-se durante o I Fórum Fundo AMIB – Uma agenda para a pesquisa, realizado nos dias 22 e 23 de agosto, em São Paulo (SP), para estudar e sugerir os rumos da pesquisa na especialidade, visando a melhoria do atendimento ao paciente crítico.
Durante o encontro da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), os médicos levantaram o nível de conhecimento atual, disponível na literatura médica, e propuseram os temas prioritários, que serão alvos de estudo nos próximos anos, relacionados aos tópicos "Sedação e Disfunção Cerebral Aguda", "Abordagem do Sangramento e Transfusão de Hemácias" e "Terminalidade e Cuidados Paliativos".
Para Suzana Lobo, presidente do Fundo AMIB, o fórum superou a todas as expectativas, pois cada tema, reconhecidamente importante dentro do ambiente das UTIs, foi discutido com base em informações muito atualizadas e relevantes, que terão um ótimo impacto no conhecimento relacionado à Medicina Intensiva no Brasil e, conseqüentemente, na melhoria assistencial. "Estamos acostumados a interpretar os resultados dos estudos estrangeiros como aplicáveis para a nossa realidade; precisamos direcionar esse conhecimento da realidade nacional e desenvolver nossas próprias pesquisas", acrescenta a médica.
Coordenado por Antonio Capone Neto, presidente do Comitê de Neurointensivismo da AMIB, o grupo que debateu "Sedação e Disfunção Cerebral Aguda" sugeriu diversos tópicos para pesquisa. "Os dois temas são de extrema importância para o intensivista e para o doente crítico. Primeiro, porque eles são utilizados e vivenciados a todo instante na UTI, pois a grande parte dos pacientes está sedada, sendo que a incidência de Disfunção Cerebral Aguda é maior do que 80% naqueles que estão em ventilação mecânica. Já se sabe, por exemplo, que o delirium tem um alto impacto na mortalidade, aumenta os custos hospitalares e o tempo de internação, mas ainda precisamos saber se somos capazes de preveni-lo e se trata-lo adequadamente realmente diminui o número de óbitos", explica.
O presidente do comitê destacou ainda que, no quesito sedação, de um modo geral, faltam dados nas áreas de farmacoeconomia e de pediatria. "Não há estudos epidemiológicos brasileiros para avaliar os custos (diretos e indiretos) de pacientes sedados ou não e em ventilação mecânica. Outro fator muito relevante é que a população pediátrica não tem sido muito estudada quando se trata tanto de delirium quanto de sedação. Não existe um instrumento validado, por exemplo, para avaliar disfunção cerebral em crianças, mas a sedação continua sendo usada nas UTIs pediátricas", acrescenta.
Segundo Rubens Carmo Costa Filho, coordenador dos grupos "Abordagem do Sangramento e Transfusão de Hemácias", há nessas áreas do conhecimento uma série de lacunas ainda não claramente respondidas pela literatura. "Temos muito que pesquisar, por exemplo, sobre o limiar transfusional em pacientes críticos. Precisamos conhecer, de modo consistente, sobre os impactos que o tempo de estocagem do sangue e componentes, bem como sua desleucocitação, poderiam produzir sobre desfechos nas UTIs brasileiras. Temos ainda que estudar outros assuntos pertinentes, como o perfil epidemiológico do sangramento nas UTIs, as intervenções terapêuticas para controle de coagulopatia, além de conhecer a incidência de sangramentos relacionada ao uso inadequado de drogas anticoagulantes e o impacto que a transfusão de sangue poderia causar em pacientes sépticos. É preciso também definir termos para uniformizar nossa linguagem, no sentido de descrever metodologias e práticas que correspondam à realidade nacional", conta o médico.
Costa-Filho, que é também presidente do Comitê de Trombose, Hemostasia e Transfusão (THT) da AMIB, ressalta que "o Brasil é um país extremamente heterogêneo, com CTIs que variam suas práticas, de acordo com sua geografia e cultura. Aí reside nosso grande desafio: desenvolver práticas que possam ter aplicabilidade, em centros públicos e privados, universitários ou mistos, em todas as categorias, distribuídos em diversas regiões do País".
"Os trabalhos realizados durante o fórum pretendem dar uma visualização conjuntural ao intensivista brasileiro sobre possibilidades de crescimento, e de que forma poderíamos, por meio da implementação das melhores práticas, aperfeiçoar a qualidade da nossa medicina", acrescenta Costa-Filho.
Frente ao grupo "Terminalidade e Cuidados Paliativos", Rachel Moritz, presidente do Comitê de Terminalidade da associação, afirmou que, no mundo atual, fatores culturais, como o medo da morte, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento de um doente terminal em seu lar, levaram à morte institucionalizada. "Os membros da equipe multiprofissional das UTIs tornam-se angustiados diante das dúvidas sobre o real significado da vida e da morte. Para que esse sofrimento seja minimizado, a implantação de Cuidados Paliativos nas UTIs tem se tornado uma necessidade".
Durante o debate, os membros do grupo fizeram definições essenciais relativas ao tema, entre elas sobre os Cuidados Paliativos na UTI, que ficou caracterizado como os cuidados prestados ao paciente crítico em estado terminal, quando é inatingível a cura, que neste momento deixa de ser o foco da assistência. "Nessa situação, o objetivo primário é o bem-estar do paciente, permitindo-lhe uma morte digna e tranqüila. Na filosofia dos cuidados paliativos, demos ênfase aos princípios da autonomia e da não maleficência. Ressaltou-se também a importância dos cuidados aos familiares daqueles que estão morrendo e à equipe que lhes assiste, propondo linhas de pesquisa nesse caminho, com o objetivo de ampliar o conhecimento dos tópicos", conclui a Dra. Rachel.
As propostas de pesquisa devem ser divulgadas no primeiro trimestre de 2009, gerando artigos para publicação.
Fonte: Assessoria de imprensa da AMIB - 02-09-2008