O velho ditado de que é melhor prevenir do que remediar será levado a sério, a partir de agora, pelo poder público estadual. O governo do Estado está contratando uma empresa privada que irá monitorar a saúde de 180 mil servidores públicos e seus dependentes.
A idéia é tentar reduzir os custos com o plano de saúde, o Santa Catarina Saúde, que consome R$ 124 milhões por ano dos cofres públicos, reduzir as licenças médicas e melhorar a qualidade de vida do servidor.
Médicos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros visitarão a casa ou o local de trabalho de cada servidor para ver como anda a sua saúde. Se estiver tudo bem, com as vacinas em dia, ele só será monitorado de tempos em tempos, por telefone. Aqueles que tiverem predisposição para doenças ou precisando de cuidados serão eleitos para um acompanhamento constante, presencial e também por telefone, inclusive para ver se não esqueceram de fazer exames ou tomar remédios.
A equipe de profissionais questionará se exames como glicemia e colesterol estão em dia, fará uma análise do ambiente familiar, falará de hábitos alimentares e de qualidade de vida. Fumantes, hipertensos e diabéticos estão no alvo.
O secretário de Estado da Administração, Antônio Gavazzoni, disse que o projeto é a menina dos olhos da sua gestão.
- Esse grupo vai visitar casa a casa, vai olhar aquele servidor que tem diabete, que é fumante e não se cuida. Nós não vamos deixá-lo ficar mais doente. Será uma ação forte para diminuir as internações.
Redução de 10% com o plano de saúde
O governo do Estado investirá R$ 1 milhão por mês no programa. É menos de R$ 5 para cada um dos 180 mil usuários do Santa Catarina Saúde, mas a médio prazo a expectativa é reduzir até 10% no gasto com o plano de saúde.
A licitação para contratar a empresa foi feita na quinta-feira, na Secretaria da Administração. Participaram duas empresas, a TopMed Assistência à Saúde, de São José, e a Impacto Consultoria Médica SS Ltda, de Curitiba, desclassificada por falta de documentos.
Mesmo sem disputa, a TopMed, que havia apresentado valor de R$ 5,32, reconsiderou e fechou em R$ 4,98 para cada segurado. A empresa tem sede no Edifício Terra Firme e atua no ramo há quatro anos.
O processo licitatório foi suspenso até que a Diretoria de Saúde verifique se a TopMed tem condições de oferecer o que exige o edital. Se estiver tudo certo, os profissionais começam a atuar imediatamente.
- O conceito é cuidar das pessoas e não das doenças nas 24 horas do dia. É passar a fazer saúde e não doença - resume o coordenador do Comitê de Acompanhamento de Custos da Secretaria da Administração, Jeferson Spessatto.
O programa
COMO VAI FUNCIONAR
A empresa contratada terá uma equipe com médicos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos e enfermeiros que farão um raio x sobre a vida de todos os servidores. Vão identificar aqueles que precisam de cuidados constantes
Aqueles que apresentam tendência para doenças ou já estão doentes vão receber acompanhamento contínuo, inclusive se fez exames e tomou os remédios necessários. As visitas poderão ser em casa ou no trabalho
A intenção do governo é promover a saúde entre os servidores, reduzir os custos com o plano de saúde, reduzir as licenças-médicas e melhorar a qualidade de vida
O governo pagará à empresa R$ 4,98 para cada usuário - ao todo mais de R$ 1 milhão por mês - para que a empresa faça o monitoramento
A empresa também terá que ter uma central de relacionamento (espécie de call center) para agendar as visitas dos profissionais de saúde e conferir como anda o paciente
Um software (programa de computador) também permitirá a gestão do serviço. A fiscalização caberá à Diretoria de Saúde da Secretaria de Estado da Administração
O Santa Catarina Saúde
O contrato entre o governo e Unimed foi assinado em fevereiro de 2006
São 180 mil usuários entre segurados titulares, dependentes e agregados
Eles estão no Executivo, Legislativo, Tribunal de Justiça, Ministério Público Estadual e Tribunal de Contas
Receita mensal próxima a R$ 15 milhões
Servidor desconta 4,5% da sua remuneração
Tesouro do Estado complementa com outros 4,5%
A saúde do funcionalismo
Doenças que mais afligem
1º Psicológicas-psiquiátricas
2º Ortopédicas
3º Doenças degenerativas
Afastamentos para tratamento de saúde
1º Secretaria da Educação
2º Secretaria da Saúde
3º Secretaria da Segurança Pública
- Apenas essas três secretarias, juntas, foram responsáveis por 88% dos afastamentos de servidores para tratamento de saúde*
- O total de dias úteis não trabalhados por conta de doenças chegou a 649.373 dias
- É como se cada servidor deixasse de comparecer ao trabalho 9,7 dias por ano
- Considerando-se um salário médio de servidor público ativo (R$ 2,1 mil), o total gasto pelo governo em dias de trabalho não executados chega a R$ 46,2 milhões
*Dados referentes a 2006
22-09-2008 - Licenças médicas custam muito caro
As três principais causas de licença para tratamento de saúde entre os servidores públicos estaduais são as doenças psicológicas-psiquiátricas, as ortopédicas e as degenerativas. E elas custam caro para o governo.
Em levantamento apresentado no ano passado, o total gasto pelo governo em dias de trabalho não executados chega a R$ 46,2 milhões. É como se cada servidor deixasse de comparecer ao trabalho quase 10 dias por ano. As secretarias que mais têm casos de afastamento são a Educação, a Saúde e a Segurança Pública.
De lá para cá, pouca coisa mudou. As licenças médicas continuam tirando o sono dos administradores, mas o monitoramento preventivo da saúde do servidor tem outro objetivo: tentar reduzir o índice de sinistralidade do plano de saúde - a divisão entre a receita e as despesas com procedimentos médicos (consultas, exames, cirurgias, internações).
O índice de sinistralidade do plano de saúde do governo do Estado é alto, fruto da massa de servidor envelhecida - média de 49 anos - , da utilização inadequada dos produtos e altos custos das internações.
No ano passado, o governo gastou R$ 124 milhões com o plano de saúde. Foram 5,6 milhões de serviços. A tensão é constante entre o Executivo e a operadora do plano, a Unimed, que reclama sempre novos reajustes. Com o monitoramento preventivo, a tendência é baixar o número de licenças médicas e também o índice de sinistralidade em poucos meses.
- Fizemos uma auditoria e descobrimos que 3% a 4% dos usuários são responsáveis por quase 30% do consumo. São servidores com doenças graves, tratamentos caríssimos. Não queremos mais deixar chegar nisso - explicou Gavazzoni.
22-09-2008 - Ações simples que dão certo
Nos últimos dois anos, várias ações foram feitas para valorizar a saúde do servidor público. Algumas bem simples, como distribuir mouse pad e jalecos nas repartições, e outras mais dispendiosas, como a reforma dos locais de perícia médica em todo o Estado.
A doutora Iara Maria Gaieski Pinós, gerente de saúde ocupacional, disse que quando se falava em saúde do servidor só se pensava na perícia médica, quando o trabalhador está doente e deve ser afastado.
Hoje, até mesmo a legislação que regulamenta a saúde ocupacional está pronta para ser enviada à Assembléia Legislativa. O Centro Administrativo, sede do governo no Estado, ganhará um posto de atendimento médico com amplo espaço para consultas. O Centro de Saúde do Servidor, local das perícias médicas, mudará em breve para um local mais adequado: da Avenida Mauro Ramos passará para a Rua Major José Augusto de Farias.
Marise Cidade, funcionária do setor de perícia médica, usa o mouse pad que tem impressas dicas de exercícios físicos para evitar doenças articulares. Doutora Iara já fez até um almanaque com dicas para a qualidade de vida
- Mas sei que falar em prevenção não dá ibope - argumenta.
Fonte: Diário Catarinense - 22-09-2008