A Federação Nacional dos Médicos divulgou nesta terça-feira, 23/09, nota sobre as declarações do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, que chamou os cinco médicos que faltaram ao plantão de domingo do Hospital Getúlio Vargas de "vagabundos e safados". Os médicos foram demitidos e, na opinião de Cabral, "não têm compromisso com a população".
A nota, assinada pelo presidente da Fenam, Paulo Argollo, foi divulgada nesta terça-feira pelos diretores Mário Fernando Lins e Jacó Lampert, que, junto com o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, concederam entrevista à imprensa na sede do sindicato.
No documento, Argollo diz que se os médicos erraram, serão punidos, mas que têm direito à defesa e não podem ser desrespeitados em público conforme fez o governador. Argollo também assinala que a necessidade da presença da Polícia Militar no hospital para conter o tumulto provocado pela demora no atendimento, pode significar que os plantonistas corriam risco de vida.
"As equipes têm número insuficiente de médicos, fazendo com que todos trabalhem além de seus limites e sob a pressão dos que aguardam, descontentes com a demora. Muitos médicos já foram, inclusive, agredidos fisicamente", afirma o presidente da Fenam. Ele acrescenta que "antes de chamar os médicos de vagabundos, o governador deveria passar algumas horas nos plantões de hospitais, como o próprio Getúlio Vargas, para ver de perto as condições precárias em que trabalham os médicos e as péssimas condições de atendimento à população que o elegeu".
Leia abaixo a nota na íntegra
A respeito das declarações do governador Sérgio Cabral, o Dr. Paulo de Argollo Mendes, presidente da FENAM – Federação Nacional dos Médicos, declara que:
“A ausência dos médicos no plantão do Hospital Getúlio Vargas, no Rio, está sendo investigada e, se constatada culpa, eles serão punidos em várias frentes: no próprio hospital, com a demissão, aliás já anunciada antes mesmo de os profissionais serem ouvidos, e no tribunal ético do Conselho Regional de Medicina, que pode, inclusive, quando é o caso, cassar o registro, proibindo o indivíduo de exercer a medicina em todo o território nacional.
Espera-se que seja permitido o direito de defesa, consagrado na Constituição, embora os profissionais já tenham sido ofendidos e linchados publicamente.
O fato, no entanto, de terem sido necessárias equipes da Polícia Militar para controlar o tumulto causado pelo descontentamento com a falta de atendimento, já permite antever um possível motivo para a ausência: o risco de vida. Temos assistido, com assustadora freqüência, o descaso dos gestores quanto à reposição de pessoal, ou seja, os plantões de emergência do SUS já funcionam superlotados, com pacientes em macas pelos corredores, etc, etc.
As equipes têm número insuficiente de médicos, fazendo com que todos trabalhem além de seus limites e sob a pressão dos que aguardam, descontentes com a demora. Muitos médicos já foram, inclusive, agredidos fisicamente.
Nessa situação, sem obter resposta de diretores e gestores, não é de surpreender que, sendo ainda mais reduzida a equipe, estivessem os que comparecessem em risco de vida.
Os fatos precisam ainda ser esclarecidos, mas algumas coisas são evidentes. O despreparo e falta de educação do governador do Estado é um deles. Outro, no entanto, é positivo. Parece que o Sr. Sérgio Cabral acaba de se dar conta de que há problemas na saúde. E quem sabe, a partir de agora, se tomem providências efetivas quanto à dengue, às filas para atendimento, à falta de contratação de profissionais, às macas nos corredores das emergências, enfim, o criminoso desrespeito com que o governo carioca vem tratando a população”.
O governador do Rio tenta encobrir as promessas não cumpridas de melhorias para o setor de saúde que fez durante sua campanha, atribuindo aos médicos a culpa do caos instalado nos hospitais públicos do Rio de Janeiro e jogando a população contra a categoria a fim de desviar a atenção dos erros que sua administração comete no trato com a saúde.
Antes de chamar os médicos de vagabundos, o governador Sérgio Cabral Filho deveria sair mais do seu confortável gabinete no Palácio das Laranjeiras e passar algumas horas nos plantões de hospitais, como o próprio Getúlio Vargas, para ver de perto as condições precárias em que trabalham os médicos e as péssimas condições de atendimento à população que o elegeu.
Se os médicos faltaram ao plantão de domingo sem justificativa, erraram e devem ser punidos por isso, mas não desrespeitados. Punido também deve ser o governo por não cumprir os preceitos da Constituição Federal, que afirma que saúde é direito de todos e dever do Estado. E não é isso que se vê nos hospitais do Rio de Janeiro.
Paulo de Argollo Mendes
Presidente da Federação Nacional dos Médicos – FENAM
Fonte: Imprensa FENAM - 23-09-2008