07-10-2008 - Estudos sobre HIV e HPV rendem Nobel

O Prêmio Nobel de Medicina 2008 reconheceu ontem as pesquisas de três virologistas que, com suas descobertas, permitiram um salto qualitativo determinante para a identificação e o tratamento do câncer de colo do útero e da Aids, duas doenças que matam milhões de pessoas todos os anos.
O alemão Harald zur Hausen foi premiado por descobrir a relação entre o papilomavírus (HPV) e o câncer do colo do útero, enquanto os franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi foram distintos por terem descoberto o vírus da imunodeficiência humana (HIV), informou, em Estocolmo, o Instituto Karolinska, que concede o prêmio.
Indo contra as teorias dominantes na década de 1970, Zur Hausen defendeu que o HPV desempenhava um papel no desenvolvimento do câncer de colo do útero, o segundo mais comum entre as mulheres. Zur Hausen disse que, se as células tumorais continham um vírus cancerígeno, deviam esconder DNA viral em seus genomas e dedicou uma década a pesquisar as centenas de variantes de HPV conhecidas. A partir da descoberta de DNA do HPV em biópsias de câncer de colo do útero, Zur Hausen identificou em 1983 o HPV16 e depois o HPV18, que depois clonou.
Graças a sua demonstração desta propriedade do HPV, foi possível o avanço do conhecimento sobre este tipo de câncer e sobre os fatores de predisposição à persistência viral e à transformação celular, possibilitando o desenvolvimento de uma vacina, que está no mercado desde 2006.

Vacina contra Aids é o novo desafio
Já Barré-Sinoussi passou a fazer parte da equipe de virologistas de Luc Montagnier no Instituto Pasteur em 1974. Juntos começaram a trabalhar sete anos depois na busca do agente causador de uma síndrome que gerou comoção mundial e causou milhões de vítimas: a Aids.
Dois anos depois, descobriram o vírus causador da doença, o HIV, cuja produção tinham identificado em linfócitos de pacientes com gânglios linfáticos alterados em quadros avançados de imunodeficiência adquirida e em sangue de pacientes com síndrome em fase terminal.
Os cientistas franceses caracterizaram este retrovírus como o primeiro lentivírus - com período de incubação muito longo - humano conhecidos. Era 1984 quando isolaram várias amostras de pacientes com infecções por relações sexuais, por transfusão de sangue e de mães que passaram a síndrome para seus filhos.
Sua descoberta tornou possível uma clonagem rápida do genoma do HIV-1, fundamental para determinar o comportamento do vírus, o diagnóstico da doença e o desenvolvimento de remédios antivirais, que limitaram a expansão da pandemia.
O Prêmio Nobel de Medicina é um apoio a Montagnier na polêmica sobre quem realmente descobriu o HIV, feito atribuído por mais de uma década ao americano Robert Gallo. Os dois selaram a paz anos mais tarde para unirem esforços na luta contra a Aids, depois de Gallo admitir que Montagnier realmente descobriu o HIV.
Hoje, os dois, assim como Barré-Sinoussi, continuam trabalhando em um novo desafio: o desenvolvimento de uma vacina.

Estocolmo Saiba mais 
O sueco Alfred Nobel, inventor da dinamite, criou em seu testamento os prêmios nas categorias da Medicina, Química, Literatura e Paz. O prêmio no setor da Economia não é tecnicamente um Nobel, pois foi estabelecido em 1968 pelo banco central sueco. Nobel deixou poucas instruções sobre como selecionar os ganhadores. Mas os apontados na Medicina geralmente recebem o prêmio por uma conquista específica, não pelo conjunto da obra. 

Fonte: Diário Catarinense - 07-10-2008


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