20-10-2008 - ARTIGO: Alzheimer: o papel da família, por Sonia Aparecida Rocha de Jesus*

Alzheimer é uma doença neurológica degenerativa, lenta e progressiva. Costuma se manifestar depois dos 50 anos. Em algumas famílias, há prevalência mais alta, mas a doença pode surgir em famílias que nunca apresentaram um caso. Na fase inicial, é de difícil diagnóstico, pois pode ser confundida com outros quadros ligados à senilidade, como a arteriosclerose.
A doença se manifesta com pequenos lapsos de memória que podem passar despercebidos durante algum tempo, até a pessoa esquecer seu endereço ou estranhar a fisionomia de um conhecido ou parente. O esquecimento, a desorientação, a desorganização, a depressão e agressividade são características comuns.
Nessa fase, quando tem consciência das dificuldades de memorizar, organizar-se e se orientar, a pessoa se deprime e sente raiva, pois percebe que o quadro é irreversível. Além das dificuldades que o quadro evolutivo da doença apresenta, há um problema maior: a reação da família, que muitas vezes tem dificuldades para aceitar o diagnóstico. Algumas, por desinformação, sentem vergonha. Outras reagem negativamente, pois imaginam seu futuro ao olhar para o pai ou para a mãe.
A fase inicial da doença costuma gerar problemas de convivência. A família e outras pessoas com quem o doente mantém contato diário acabam por perder a paciência e se irritar com os constantes esquecimentos. É comum pensar que a pessoa ainda tem condições de aprender e reter informações, gerando discussões e brigas com o doente, pois as dificuldades são vistas como teimosia.
Para promover o bem-estar do indivíduo com Alzheimer, recomenda-se evitar mudanças no ambiente da casa, nos hábitos e na rotina. Imaginemos a confusão e a insegurança da pessoa que está se esquecendo gradativamente das coisas quando se depara, por exemplo, com lugares que não conhece e onde não identifica o espaço ou alguém familiar. Quando a mudança da casa se torna necessária, é fundamental utilizar objetos familiares para a pessoa. Também convém preservar a tranqüilidade e a segurança do ambiente, tanto física quanto emocionalmente.
Outro ponto importante é estimular a pessoa para a vida, mantê-la independente pelo maior tempo possível. O acompanhamento e o conhecimento da evolução da doença permitem ao familiar agir com coerência e atender da melhor forma possível às necessidades de cada momento que a pessoa vivencia.
Além de todos os cuidados que devem cercar a pessoa, os principais são a atenção, o acompanhamento e o carinho. A presença física, o toque, a conversa, mesmo que a pessoa já esteja numa fase que não fale mais e, aparentemente, não entenda, são essenciais. Acredito que elas não perderam totalmente a compreensão e a sensibilidade. São sensíveis ao toque e reagem positivamente ao carinho que lhes é dado.
A doença de Alzheimer traz um tipo de situação em que a noção de família se modifica. É necessário rever papéis e valores, definir as tarefas de cada um, saber delegar funções, tornar as coisas mais práticas e eliminar culpas. A família é peça fundamental e também precisa ser cuidada. Nesse processo, a busca de auxílio, orientação e apoio psicoterápico é vital.

*Psicóloga, especialista em psicoterapia psicodinâmica breve e em gestão estratégica de pessoas

Fonte: AN - 20-10-2008


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