20-11-2008 - Médicos realizam transplante inédito

Em um transplante de traquéia realizado na Espanha, a colombiana Claudia Castillo, 30 anos, tornou-se a primeira pessoa a receber um órgão cujo tecido foi desenvolvido a partir das células-tronco do próprio paciente.
A tecnologia também permitiu que, pela primeira vez, se fizesse um transplante de órgão sem necessidade de remédios anti-rejeição, que podem causar efeitos colaterais, como hipertensão, insuficiência renal e câncer.
A necessidade do transplante de Claudia surgiu depois de uma grave tuberculose, que causou um colapso do pulmão esquerdo, logo após a bifurcação da traquéia, causando-lhe dificuldade de respirar e falar.
O doador era um homem de 51 anos, morto por hemorragia cerebral. Após fazer 25 lavagens para eliminar do órgão todas as células do doador, os médicos refizeram a traquéia com as células de Claudia.
A cirurgia foi feita há cinco meses no Hospital Clínico de Barcelona, mas só divulgada ontem. Caso não funcionasse, a única alternativa seria a retirada do pulmão.
De acordo com os médicos, ela está em perfeito estado de saúde e pôde voltar a sua rotina, como ir ao trabalho e cuidar dos dois filhos, que moram com ela em Barcelona. Cientistas europeus acreditam que a técnica, descrita em um artigo da revista científica The Lancet, será comum no futuro.
- Eu estava com muito receio. Antes disso, nós só havíamos feito esse trabalho com porcos. Mas assim que a traquéia saiu do biorreator (equipamento onde o órgão foi colocado para crescer), tivemos uma surpresa muito positiva - salientou o cirurgião Paolo Macchiarini.
Macchiarini afirmou que as chances de surgirem sinais de rejeição do órgão no corpo da paciente são praticamente nulas.
- Ela está curtindo uma vida normal, o que para nós, os médicos, é um presente muito bonito - disse.


Técnica poderá ser usada para outros órgãos

Para Martin Birchall, pesquisador da universidade britânica de Bristol, que ajudou a criar a traquéia híbrida, o transplante significa uma grande mudança nas técnicas de cirurgia.
- Os cirurgiões podem, agora, começar a entender o potencial das células-tronco de adultos e o desenvolvimento de tecidos para, radicalmente, melhorar a sua habilidade de tratar pacientes com doenças graves - destacou, enfatizando que, em 20 anos, praticamente todos os transplantes de órgão serão feitos desta forma.

Fonte: Diário Catarinense - 20-11-2008


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