04-02-2009 - Hospital de São Paulo testa opção à laqueadura

A técnica consiste na colocação via vaginal de implantes em formato espiral nas trompas de falópio (canal onde ocorre a fecundação) para impedir que a mulher engravide.
O Essure --nome comercial-- aposta no fato de ser "menos invasivo" para atrair adeptas. O produto, em uso na Europa e aprovado nos EUA em 2002, teve seu registro publicado ontem no "Diário Oficial" da União pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
"Esse procedimento não requer exames pré-operatórios nem anestesia e a mulher não precisa tirar 15 dias de licença, como na laqueadura. Ele é feito em ambulatório, e a recuperação é imediata", afirma Reginaldo Guedes Coelho Lopes, diretor do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital do Servidor Público Estadual de SP, onde o produto será usado inicialmente em cinco pacientes. Deverá, depois, ser usado só para estudos no hospital.
A expectativa de Lopes, que preside comissão na Febrasgo (federação brasileira de ginecologistas) é que o procedimento não demore a chegar a consultórios e clínicas particulares.
Os implantes são colocados por histeroscopia (o endoscópio que permite ao médico visualizar o procedimento em uma tela é introduzido pela vagina e chega ao útero). Também é introduzido um cateter, que deposita o implante.
Se ele se acomodar corretamente, o que é verificado após três meses, as chances de evitar a gravidez são superiores a 99%, como na laqueadura, segundo a fabricante americana Conceptus Inc. Nesse período, o casal deve usar outros métodos anticoncepcionais.
Há semelhanças com a laqueadura, que também é feita nas trompas de falópio (corte ou ligamento). O procedimento com o Essure é irreversível, deixando como opção apenas a fertilização in vitro. Na laqueadura, há casos em que é possível reverter a cirurgia.
O preço ainda é indefinido. Nos EUA, sites informam que o procedimento custa entre US$ 1.300 e US$ 1.500, mas os menores custos hospitalares favorecem barateamentos.
Para Mauricio Simões Abrão, presidente da SBE (Associação Brasileira de Ginecologia Minimamente Invasiva), a laqueadura convencional tem a vantagem de já ser usada há muito tempo. "A medicina hoje é muito baseada em evidência. As pessoas podem pensar em efeitos de longo prazo. Mas acho improvável que isso ocorra, pelas exigências das agências para liberar produtos."
Diversas pesquisas já tentaram mostrar as vantagens e riscos do Essure. Entre as divulgadas na revista referência da área, "Fertility and Sterility", há uma de cientistas espanhóis mostrando que, entre 1.630 mulheres que receberam o implante, o nível de satisfação era alto e as reclamações de dor após o procedimento, baixas.
Outra mostra registro de dez mulheres que engravidaram usando o produto. O problema foi creditado a falha na verificação da colocação do produto e ao fato de as mulheres não terem seguido as recomendações médicas, entre outros motivos.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 04-02-2009 


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