O Ministério Público de Santa Catarina deverá instaurar inquérito civil público para investigar as denúncias de irregularidades em uma das bases do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Florianópolis.
A reportagem da RBS TV teve acesso ao depósito onde ficam armazenados medicamentos e materiais usados no atendimento de urgência. O ambiente é escuro e sem ventilação. Seringas são armazenadas embaixo de produtos de limpeza. Nas caixas, alguns medicamentos estão vencidos em até dois meses.
Nas paredes, há sinais de infiltração e há mofo em outro depósito, onde roupas sujas de sangue e secreção, usadas pelos profissionais, são armazenadas em baldes.
Um funcionário que não quer se identificar denuncia a falta de condições de trabalho no local.
— Olha, nós estamos trabalhando numa situação muito precária, sem estrutura nenhuma. A medicação está num local impróprio, sem ventilação. Na verdade, está num porão misturado com outros materiais de limpeza e até baratas. Problema muito grave também quando chove, que inunda toda a sala onde está essa medicação.
Ele afirma ainda que os equipamentos usados nos atendimentos muitas vezes são utilizados em outras ocorrências sem a desinfecção adequada.
— Por exemplo, a gente sai de uma ocorrência, de um acidente, acabamos de deixar a vítima no hospital, o material está contaminado, e como a demanda é muito grande para pouca ambulância, nós somos obrigados a atender outras ocorrências, mesmo passando para a central de que há materiais sujos.
Providências
O Samu utiliza de forma provisória o prédio da Guarda Municipal. O gerente do serviço, Miguel Accetta, confirma que o espaço não é adequado.
— O melhor local está sendo providenciado e em breve nós vamos inaugurar — disse.
Ele falou sobre a existência dos medicamentos fora do prazo de validade nas caixas:
— O que é colocado pra frente são medicamentos que vão ser levados ao almoxarifado para troca subsequente. Eventualmente deve ter uma caixa com medicamentos vencidos, que são devolvidos mensalmente ao almoxarifado. Isso pode acontecer.
O coordenador de Enfermagem do Samu, Andrey Teixeira, rebateu a denúncia de que equipamentos usados em ocorrências não estariam recebendo a desinfecção correta.
— A informação não procede, nós temos a base do Campeche, onde fica o nosso expurgo. E lá é feita a limpeza de todos os materiais usados em ambulâncias. Nós temos hipoclorito a 1%, álcool a 70%, detergente, sabão, e que está de acordo com as normas para limpeza do material.
A promotora Sônia Piardi, do Ministério Público de Santa Catarina, considera a situação preocupante.
— A situação me pareceu bastante grave e exige uma ação imediata do Ministério Público, provocando o município para que haja uma regularização e, se for o caso, até a saída desse serviço do local onde, pude ver pelas imagens, parece extremamente insalubre.
Ela informou que pretende investigar o caso.
— Diante dessas imagens, pretendo requisitá-las da RBS TV para instruir um inquérito civil público, que pretendo instaurar, e, num segundo momento, fazer uma vistoria in loco para que haja o levantamento de todas as irregularidades.
O diretor da Vigilância em Saúde de Florianópolis, Anselmo Granzotto, disse que os procedimentos mostrados pela reportagem não são corretos, mas afirma que não foi esta a situação encontrada pela equipe de vistoria.
— Já havia sido feito um rearranjo para que essas questões fossem resolvidas. Nós estaremos em permanente contato com o diretor do Samu, repassando orientações para que efetivamente as condições encontradas no momento da vistoria sejam mantidas e com isso oferecidas as melhores condições de atendimento e saúde da população — disse.
Fonte: Clicrbs - 16-03-2009