13-04-2009 - Nosso coração está funcionando melhor

As doenças cardiovasculares se mantêm como a principal causa de morte dos brasileiros, mas o índice de óbitos por enfartes, derrames e problemas coronarianos só cai no país, graças ao avanço da medicina na área e à melhoria no atendimento nos hospitais. No entanto, isso ocorre num ritmo mais acelerado nas regiões mais desenvolvidas do que nas mais pobres.
Essa é a conclusão de um estudo que analisou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde de 1980 a 2003. No período, a taxa de mortes a cada 100 mil habitantes passou de 287,3 para 161,9, com um decréscimo anual de 3,9% – embora o número absoluto de óbitos tenha aumentado e siga essa tendência nos próximos anos, à medida que a população brasileira cresce e envelhece.
O derrame foi o que mais caiu – no Nordeste (3%), no Centro-Oeste (3,6%), no Sul (4,1%) e no Sudeste, 4,4%. Com relação às doenças isquêmicas, a diferença é ainda maior: a queda no Nordeste foi de 1,5%, no Centro-Oeste, 2,8%, no Sul, 3,2%, no Sudeste, 4%. Em geral, melhores do que a média brasileira, as taxas da região Norte não foram consideradas confiáveis, em função do grande fluxo migratório para outras regiões brasileiras nos 24 anos estudados.
Os pesquisadores Cintia Curioni e Renato Veras, ambos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Cynthia Cunha, da Fiocruz; e Charles André, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisaram os dados durante um ano e publicaram os resultados na Revista Pan-Americana de Saúde. Foi a primeira vez que uma pesquisa abrangente enfocou as diferenças regionais.
Entre as causas das desigualdades, está a qualidade inferior no atendimento, o que inclui a aparelhagem dos hospitais – três quartos dos aparelhos de ressonância magnética e de tomografia computadorizada, que permitem ao médico visualizar com precisão o coração e o cérebro do paciente, estão no Sul e no Sudeste, especialmente Rio e São Paulo. Outro ponto levantado pelo estudo é o grau de conscientização da população quanto aos fatores de risco, como fumo, obesidade, diabete, hipertensão e sedentarismo, que seria maior nas regiões mais ricas do país.
Para Deborah Malta, coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, não é bem assim: levantamentos do órgão mostram, por exemplo, que, entre as capitais, as que registram menor índice de sedentarismo são Palmas (TO), Belém (PA), Boa Vista (RR) e Natal (RS), bem na frente do Rio e de São Paulo.

Pesquisa alerta para a prevenção primária
A médica afirma também que é preciso relativizar os resultados do estudo (embora eles se assemelhem a outros obtidos em análises anteriores do próprio ministério), já que os sistemas de informações do Sul e Sudeste são mais eficientes do que os do Norte e Nordeste, que foram aperfeiçoados apenas a partir de 2004.
A pesquisa aponta para a necessidade de os governos atentarem para a prevenção primária das doenças. O cardiologista Carlos Scherr, membro do Colégio Americano de Cardiologia, defende a adoção de campanhas de conscientização pelo Ministério da Saúde que informem do perigo das doenças cardiovasculares, a exemplo do que é feito com relação às moléstias infecto-contagiosas.
– São as doenças que mais matam no Brasil e nunca se fez uma campanha do mesmo nível de intensidade e com sequencia como se faz para a Aids ou a dengue. Faltam informações básicas. Hoje, o índice das pessoas que tratam a hipertensão no Brasil é de apenas 40% – disse Scherr.
Ele lembra que, nos Estados Unidos, 44% da queda de mortalidade por doenças coronarianas se deveu ao controle do peso, diminuição do colesterol e do sedentarismo. Outro alerta é o fato de que o índice de mortes pode ter diminuído, mas não as sequelas, como paralisias e redução da capacidade cardíaca.

Fonte: DC - 13-04-2009


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