Embora esteja fazendo quase 200 transplantes de coração por ano, o Brasil só atende a 5% dos pacientes necessitados, enquanto 95% acabam morrendo enquanto esperam inutilmente um novo órgão.
O alerta é da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, vinculada à SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), para quem o problema brasileiro está tanto na falta de maior divulgação da necessidade de doações, como principalmente na falha da captação dos órgãos, já que muitos Estados tem carência de equipes que mantenham o coração do doador em funcionamento, enquanto se providencia a captação.
“Eu mesmo perdi dois corações recentemente, porque embora as famílias dos doadores concordassem com a doação, não havia equipes para manter o coração batendo, após a morte cerebral e os órgãos perderam a condição para serem transplantados”, explica o vice-presidente da Sociedade de Cirurgia Cardiovascular, Marcelo Cascudo, do Rio Grande do Norte. Cascudo é um dos cirurgiões que participou do primeiro transplante heterotópico (no qual o paciente fica com dois corações) no Brasil, e o operado continua vivo e muito bem.
A insatisfação da SBCCV se explica, porque os 39 Centros de Transplante do Brasil estão trabalhando muito aquém de sua capacidade. Enquanto o Estado do Ceará tem sido o que maior número de transplantes “per capita” realiza, no Piauí, dos 15 potenciais doadores do ano passado, apenas um coração foi efetivamente aproveitado.
“Raros são os países que possuem tão grande número de serviços credenciados para realizar transplantes cardíacos”, afirma o presidente da Sociedade, Gilberto Venossi Barbosa, e a falta de doadores e de esquema adequado de captação impede que grande número de vidas sejam salvas.
O Brasil tem Centros de Transplante em Belém, Blumenau, Brasília, Campina Grande do Sul, Campinas, João Pessoa, Aracaju, Cariacica, Fortaleza, Goiânia, Londrina, Maceió, Pato Branco, Recife, Salvador, São José, São José do Rio Preto, Sorocaba e Teresina, enquanto Belo Horizonte tem dois centros credenciados, Natal também tem dois, Curitiba e Porto Alegre contam com três, o Rio de Janeiro tem quatro e São Paulo tem seis centros, em alguns dos quais mais de um serviço está capacitado a fazer transplantes cardíacos.
“Com essa quantidade de hospitais capacitados e, principalmente, com a grande distribuição pelo território nacional, o Brasil poderia realizar muito mais transplantes”, insiste Marcelo Cascudo. Ele explica que os 860 cirurgiões associados à SBCCV têm discutido o que fazer para aumentar o número de transplantes. Uma das idéias é ampliar o “Programa Rede Nordeste”, desenvolvido pelo atual vice-governador de Alagoas, o cirurgião José Wanderley Neto. “Ele inverteu o procedimento padrão, e atualmente leva o cardiopata a ser transplantado até o hospital onde está o doador, ao invés do sistema tradicional, onde o coração é retirado e transportado até onde está o receptor”.
Ainda segundo Marcelo Cascudo, maior divulgação da necessidade de doadores poderia levar o Brasil à situação da Espanha, único País em que não há carência de corações. “Uma campanha muito bem feita levou os 38 milhões de espanhóis a se tornarem doadores”, diz ele, e com isso ninguém morre por falta de um coração, naquele País. É um exemplo a ser seguido pelo Brasil, conclui ele.
Fonte: Assessoria de imprensa da SBC - 22-05-2009