14-02-2008 - Contaminação pára exames do HC

O laboratório central do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP paralisou parte dos exames dos setores de parasitologia e de microbiologia entre terça-feira e ontem, ainda em razão do incêndio que atingiu o Prédio dos Ambulatórios da unidade, em dezembro de 2007. A ausência de refrigeração, desde o final do ano, passou a comprometer a qualidade dos trabalhos e um dos laboratórios, o de microbiologia, foi contaminado por fungos e bactérias, risco que já era previsto desde dezembro. As altas temperaturas propiciaram a proliferação dos microrganismos, e os ventiladores colocados no local podem ter auxiliado a espalhar a contaminação.
Os poucos funcionários que continuavam trabalhando ontem ainda contavam com o auxílio de ventiladores. Mesmo assim, o calor era forte no setor.
Estão suspensas análises de urina, fezes, secreções respiratórias e da pele, importantes para diagnóstico e acompanhamento de pacientes, além de pesquisa de parasitas em fezes. Foram mantidas apenas análises de sangue e do liquor - esta última, essencial para detectar meningite, por exemplo -, além de exames em líquidos de cavidades em pacientes que passaram por cirurgias. Também no setor de parasitologia foram mantidos alguns exames de emergência.
Os pacientes que não estão internados terão os exames remarcados. Já os internados serão atendidos assim que forem restabelecidos os trabalhos, pela ordem de gravidade de seu estado de saúde. A previsão é que a situação só esteja totalmente resolvida na próxima segunda-feira, disse Marcelo Burattini, diretor da Divisão do Laboratório Central do HC. Até lá, ele prevê que seja religado o sistema de refrigeração - ontem, afirmou que isso poderia ser feito ainda nesta madrugada, o que permitiria a volta imediata da área de parasitologia. Ele destaca que, no momento em que foram detectadas alterações, as análises foram paralisadas."Não houve prejuízo de qualidade dos exames realizados."
Os dois laboratórios que estão com as atividades suspensas são os únicos que fazem o trabalho no hospital. Ficam no segundo andar do prédio e integram um conjunto de oito laboratórios que processam 600 mil exames por mês para todo o HC.
De acordo com Burattini, os problemas comprometeram rotinas que envolvem cerca de 5 mil exames por mês, mas, se a situação for resolvida até segunda-feira, haverá prejuízo de apenas 700 exames, o que representaria 0,1% do volume de demanda do laboratório central.
Segundo Burattini, não há como enviar amostras de urina e fezes, por exemplo, para laboratórios de outros hospitais porque todas as placas utilizadas para isolar os microorganismos foram contaminadas e ainda não chegaram as novas encomendadas, uma compra de R$ 75 mil.
Procurada ontem para falar da suspensão dos serviços, a superintendência do hospital não se manifestou até o fechamento da edição.
Desde dezembro do ano passado, é a quarta vez que o hospital, o maior da América Latina, passa por problemas. O HC é uma unidade ligada ao governo do Estado de São Paulo.
O incêndio de 2007 causou problemas para cerca de 4 mil pacientes, que tiveram de ter consultas remarcadas. Após o fogo, houve ainda pane no hemocentro e um princípio de incêndio em uma sala de endoscopia. O governador José Serra (PSDB) chegou a afirmar que no último caso teria ocorrido incêndio criminoso, mas depois disse que também poderia ter acontecido um acidente. Os laudos dos dois casos ainda não foram concluídos pela Polícia Civil.

Fonte: Estado de São Paulo - 14-02-2008


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