18-06-2008 - Pais pedem que oncologia do Hospital Infantil seja entregue ao Cepon

Polêmica e divergência marcaram a audiência pública da Comissão de Saúde na manhã de hoje (17), no Plenarinho Deputado Paulo Stuart Wright, que debateu os serviços de oncologia no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis. Durante quatro horas de encontro, sob a coordenação do deputado Jailson Lima (PT) e a presença dos deputados Serafim Venzon (PSDB) e Ivan Naatz (PV), vários pais, cujos filhos tiveram ou têm câncer, relataram casos de ineficiência no atendimento, de profissionais não qualificados e de diagnósticos errados que, segundo eles, foram cometidos pelo serviço de oncologia da instituição.
O diretor do Hospital Infantil, Maurício Silva, admitiu que são necessários investimentos em espaço físico e adiantou que existem projetos para a construção de um módulo específico. “Ainda assim, podemos garantir que somos referência no tratamento do câncer infantil. Prova disso está na baixa taxa de mortalidade, de 1,8%.” Entre os depoimentos dramáticos dos pais, Cláudio Fontes, presidente da Associação Fahece/Cepon, disse que sua filha, que morreu aos 18 anos, foi tratada no Hospital Infantil como portadora de leucemia e, na verdade, o que ela tinha era retrocolite.
Outro pai, Nilmard Kosb, contou que o filho, hoje com 4 anos, internado há mais de um ano no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, perdeu a mão direita aos 3 anos em conseqüência de uma infecção que não foi tratada a tempo. Ele está processando judicialmente o hospital. Diante de fatos como esses, a Associação de Familiares e Amigos da Oncologia Pediátrica de Santa Catarina (Afaopsc), representada por sua presidente, Terezinha Pedrozo, solicitou à Secretaria de Estado da Saúde que a administração do serviço de oncologia do Hospital Infantil seja entregue à Fundação de Apoio ao Hemosc e Cepon, que administra com referência os serviços de hematologia e oncologia em Santa Catarina. “Se em 15 dias nosso pedido não for atendido tomaremos medidas judiciais. Queremos que o atendimento público seja integral e em igualdade de condições”, afirmou.
A médica oncologista e conselheira técnica do Infantil, Sahlua Miguel Volc, afirmou que a forma como o hospital classifica os casos de câncer é diferente de outros hospitais do país e que muitos pacientes catarinenses são obrigados a buscar tratamento nos estados vizinhos. “É uma vergonha para Santa Catarina que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre atenda pacientes dos dois estados - Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, criticou.
De acordo com o diretor do serviço de Oncohematologia, Lincoln Freire, Santa Catarina tem, como média anual, 160 novos casos de câncer infantil. Destes, pelo menos 100 são encaminhados para o Hospital Joana de Gusmão. “Neste ano de 2008 já recebemos 44 novos casos”, revelou. Segundo o responsável pelo serviço, de 1999 a 2003 foram aplicados recursos para a melhoria do atendimento e das condições de tratamento das crianças com câncer. “Ainda que digam que não, o fato é que hoje o hospital está muito melhor equipado”, garantiu.
Outro médico, Marcos Rótolo, do Cepon, alertou para o surgimento, ainda em 2008, de 18 mil novos casos de câncer em todas as faixas etárias - 7 mil de pele e 11 mil de outros tipos. “É um problema de saúde pública e em Santa Catarina há diagnóstico tardio do câncer”, afirmou Rótolo. Disse ainda que é preferível o estado ter menos centros de atendimento aos portadores de câncer, mas que sejam bem qualificados. “É preciso ter uma equipe médica que faça duas avaliações por dia em cada criança, pois um caso de leucemia pela manhã pode se agravar à noite”, alertou o médico.
O representante do Ministério Público Estadual, promotor Thiago de Oliveira, declarou que o maior problema do setor da saúde no estado é a falta de recursos. “É preciso que se deixe de priorizar a propaganda institucional e que se priorizem recursos para o setor. Que no debate da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e do Orçamento do Estado se discuta isso”, sugeriu. O promotor falou também da necessidade de atendimento psiquiátrico infantil em Santa Catarina, hoje inexistente no Joana de Gusmão.
O deputado Jailson Lima destacou a necessidade de unificar ações e intervenções, visando qualidade na saúde do estado. Ao final da audiência, o parlamentar encaminhou para a elaboração de um documento, assinado por todas as entidades presentes ao encontro, que será encaminhado ao relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Renato Hinnig (PMDB), para que o governo do Estado amplie recursos e invista em melhorias no setor de oncologia.

Fonte: Jornal Alesc-SC - 18-06-2008


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