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04-08-2008 - O Diagnóstico da Crise: Emergências em colapso

Noite de terça-feira, mas poderia ser qualquer outra noite, de qualquer semana. Um giro pelas emergências dos hospitais da Grande Florianópolis e das principais instituições do interior do Estado escancaram a cruel realidade catarinense: a saúde vai mal.
Quem precisa de atendimento chega a esperar até sete, oito horas para estar frente a frente com o médico. Isso, quando o atendente não manda o paciente voltar no dia seguinte.
- Isso é um absurdo, sou uma cidadã e exijo respeito - gritava a faxineira Solange Pereira, naquela terça-feira, na Emergência do Hospital Celso Ramos, em Florianópolis.
Ela estava indignada. Desde a noite anterior tentava atendimento para o filho deficiente, que havia torcido o pé - já inchado e roxo.
- Me mandaram voltar hoje. Estou aqui desde as 14h e agora (20h) me disseram para voltar amanhã de manhã para colocar gesso. É um desrespeito! - protestava.
Outros pacientes, também com problemas ortopédicos, tiveram que voltar para casa sem atendimento, depois de horas de espera. A sala de gesso estava fechada.
Dezenas de pessoas aglomeram-se nas salas de espera dos hospitais. Gente com tosse, febre alta, dor no peito, pé quebrado, cirrose, tontura, dor de barriga, hérnia de disco, cálculo renal, pressão alta, pé quebrado e tantos outros problemas fica horas e horas esperando a sua vez de ser atendida.
No Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a situação é igual.
- Dos mais de 300 atendimentos que realizamos por dia, apenas cerca de 3% (nove a 10 pessoas) são realmente emergência, isto é, tem risco iminente de vida. Costumo dizer paciente de emergência é aquele que chega aqui na horizontal (em macas). Estes recebem um atendimento imediato, de excelente qualidade. Os demais têm de aguardar, e isto sempre gera irritação e bate-boca - comenta o diretor da Emergência do Hospital Universitário, Luiz Alberto Nunes.
Para ele, estas pessoas deveriam ser atendidas pelos postos de saúde e policlínicas, já que não são emergências.

No interior, sobra espaço e falta estrutura
O problema é que em Florianópolis, por exemplo, existe hoje apenas um pronto-atendimento de urgência pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 24 horas por dia, administrado pelo município. Fica na Praia dos Ingleses, no Norte da Ilha. A prefeitura informa que até o final de setembro serão inauguradas duas Unidades de Pronto Atendimento, uma no Norte (Canasvieiras) e outra no Sul (Rio Tavares) da Ilha, o que deverá ajudar a desafogar as emergências dos hospitais da Capital. Nos municípios vizinhos, não há qualquer iniciativa neste sentido.
Se as instituições das grandes cidades sofrem com a superlotação, os pequenos hospitais do interior ameaçam fechar as portas porque sobra espaço, mas falta estrutura para atender casos de maior complexidade.
- Os problemas em relação à assistência hospitalar vêm tomando proporções gigantescas em Santa Catarina nos últimos anos. E algo precisa ser feito urgentemente para evitar o caos - alerta o promotor Alexandre Herculano Abreu, do Ministério Público da Capital.

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Fonte: Diário Catarinense - 03-08-2008


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