A construção de uma casamata de concreto para o acelerador linear (já pago) do Hospital São José, em Joinville, colocou à mostra uma ferida difícil de cicatrizar. É a pouca atenção dispensada pelas autoridades aos pacientes com câncer. Por conta deste atraso absurdo nas obras, os doentes se submetem a tratamentos com aparelhos antigos, com mais dores e menos probabilidade de cura. Não adianta buscar um responsável, pois é toda uma estrutura viciada pela burocracia e surda aos clamores populares que leva a este teatro de horror.
A própria palavra câncer assusta. Quando o doente recebe o diagnóstico positivo há um choque em toda a família. Felizmente a medicina avançou muito nos últimos anos. A sobrevida das mulheres com câncer do colo do útero chega perto de 50% após cinco anos. Mas o melhor remédio para esta doença continua sendo a prevenção. Pelo menos um terço dos casos novos de câncer que ocorrem anualmente no mundo poderia ser prevenido.
Por isso a importância de se ter um hospital do câncer em cidades-polo. No País são diagnosticados cerca de 466 mil novos casos de câncer por ano; 18 mil só em Santa Catarina. No Brasil existem mais de 300 estabelecimentos de saúde prestando assistência oncológica de alta complexidade a doentes do SUS em 128 diferentes municípios de 26 Estados. A maioria deles é hospital geral e alguns são hospitais especializados em câncer. Há também os denominados serviços isolados de quimioterapia e serviços isolados de radioterapia.
Santa Catarina é um dos Estados com maior incidência de câncer no País e só há um hospital especializado em pesquisa oncológica, o Cepon, de Florianópolis. Dois terços dos doentes são provenientes da população com menor poder aquisitivo e menor grau de instrução. Depois das doenças cardiovasculares, o câncer é hoje a segunda causa de morte no país.
Sabemos que a situação da saúde pública em Joinville é precária e merece uma atenção especial das autoridades. Dentro das medidas propostas para tirar a saúde da UTI preconizamos a construção de um hospital estadual do câncer em Joinville, com recursos do Estado e, principalmente, do governo federal. Isto tem um caráter social relevante, pois aliviará o sofrimento de milhares de doentes e seus familiares. Quem tem algum recurso econômico pode recorrer a Curitiba, mas devemos pensar também nos mais necessitados.
Não é sonhar alto propor a construção de um hospital do câncer. Londrina e outras cidades do porte de Joinville já têm tal tipo de estabelecimento em funcionamento. Um dos mais conceituados do País está em Barretos, no interior paulista, numa cidade com cerca de 100 mil habitantes, conhecida por sua Festa do Peão.
Com a existência de um hospital do câncer em Joinville poderíamos incrementar pesquisas com os doentes e campanhas visando à prevenção da doença. Isto é de extrema importância. Apenas a título de exemplo, estatísticas da Sociedade Brasileira de Urologia mostram que cerca de 400 mil homens possuem algum tipo de câncer sem diagnóstico. O câncer da próstata é o que encontra maior resistência na prevenção. Quem sabe, se a sociedade se mobilizar por um hospital especializado, possamos cicatrizar a pior ferida que atinge os doentes, que é a indiferença para com os mais necessitados.
*Deputado estadual
Fonte: AN - 12-03-2009